+ um dissidente em greve de fome

19/03/2010

Lula x Arias

O jornalista Augusto Nunes, da Veja (é claro) fez questão de comparar o Presidente brasileiro com o de Costa Rica à luz de um único aspecto: a opinião com relação à questão do grevista de fome cubano falecido.

Faço-me uma primeira pergunta: É confiável a análise que se faz de duas pessoas à luz de apenas uma única característica, considerando que a personalidade e o caráter de qualquer ser humano são construídos sob a égide de dezenas e dezenas delas? Logicamente que não. Mesmo assim, aceito continuar a análise à luz dessa única característica. O escolhido, Oscar Arias, é o atual Presidente da Costa Rica que, na década de 80, recebeu o prêmio Nobel da Paz.

Um grande humanista? Procure em sua biografia algo que possa caracterizá-lo como tal. Não encontrará. Mas, como? Ganhou o prêmio Nobel da Paz? Ganhou esse prêmio simplesmente porque, na época, foi o instrumento utilizado pelos EUA para um denominado “Plano de Paz para a América Latina” que implicava na intervenção em Cuba. Aliás, foi sempre assim que ele agiu. Um serviçal dos interesses diplomáticos americanos na América Latina. E parece que gostou do Prêmio da Paz recebido e deseja outro porque não titubeou em ser o colaborador da CIA no recente golpe que derrubou o Presidente democraticamente eleito Zelaya de Honduras e colocou em seu lugar um ditador.

Bem, quanto ao Presidente Lula, é ele um merecedor de um Prêmio da Paz, esse prêmio às avessas que é concedido pelos EUA? Logicamente que não. O Presidente Lula sempre esteve em sua vida, e continua estando, muito longe de ser uma espécie de Líder Mandado, aquele Líder que é eleito por um poder maior e faz tudo o que esse poder deseja. Basta ver a atual relação do Presidente com os paises do mundo todo para sentir isso, desde os poderosos, como os EUA, como os pequenos. É uma relação de grandeza, autonomia e independência. Ele não se submete a impor, aos pequenos, os acordos de paz que não são remédio algum, mas poderosos venenos empurrados goela abaixo.

Quando todos insistiam que usássemos a nossa força para massacrar a Bolívia ou o Paraguai, o Presidente foi lá e os respeitou, não como poderosos que não eram, mas como paises que deveriam ser respeitado como o nosso. Diante do poderoso EUA, ele não se curva como um submisso, mas não faz retaliação gratuita e sempre está aberto a um acordo. Tanto é verdade que o próprio Presidente Obama o chamou de “o cara”. Diante de negociações com os radicais, como Irâ, ele não sai atirando e clamando por uma invasão, mas, ao mesmo tempo, exige concessões para, como exemplo, impedir que a energia nuclear seja utilizada como arma de guerra, como a usam os EUA e outros paises. Ele não merece ainda, sem dúvida, um Prêmio da Paz autêntico, porém, sem dúvida, está a caminho.

Mas, alguém poderia dizer que o Presidente Lula não é um Líder, apenas comanda, conforme dito pelo Jornalista identificado, uma seita com cara de bando. Ora, o que é ser um líder, no sentido exato da palavra? Líder é aquele que agrega seguidores. Ora, a seita com cara de bando do Presidente Lula somente no Brasil representa 80% da população, nada mais, nada menos do que 160 milhões de pessoas. Alguém já viu um bando tão grande e uma seita com costumes, ideologias, hábitos e paixões tão diferenciados?

Pergunto ao jornalista: Quem está certo com relação à avaliação do Presidente? O bando de 160 milhões de pessoas ou você, que trabalha e recebe de uma imprensa da mídia notoriamente voltada para interesses corporativos, que estão muito longe de ser os interesses do povo brasileiro?

Diz um dito popular: Me engana que eu gosto.

Neri Perrud.